Pular para o conteúdo principal

Livro: Longe da Árvore (Cap.2 surdos)

     No capítulo 2 do Livro Longe da Árvore Andrew Solomon aborda o tema Surdos, onde é relatado experiências de pessoas surdas, suas relações familiares, a forma como se enxergam e são vistas diante da sociedade também.     O trecho a seguir é bem importante para que possamos compreender um pouco sobre a cultura surda: "A maioria das pessoas que ouve supõe que ser surdo é carecer de audição Muitas pessoas surdas vivenciam a surdez não como uma ausência, mas como uma presença. A surdez é uma cultura e uma vida, uma linguagem e uma estética, uma fisicalidade e uma intimidade diferente de todas as outras. Essa cultura existe numa separação mais estreita entre corpo e mente do que aquela que constrange o resto de nós, porque a linguagem está enredada nos principais grupos musculares, não apenas na arquitetura limitada da língua e da laringe." 


Os implante coclear é uma questão polêmica abordada no capítulo:


    Para a comunidade surda há controvérsias quanto aos implantes cocleares. Alguns são contra por acreditarem que não precisam ouvir para se considerarem "normais" e se aceitam exatamente como são. Já outros cogitam a hipótese de ouvir algo muito bom através de um implante coclear. 


Algumas agressões da sociedade aos surdos ao longo da história:


  • Os oralistas pensavam que os sinais desviariam as crianças de aprender inglês, e qualquer aluno que fizesse sinais em uma escola oralista levava uma reguada nas mãos. George Veditz, ex-presidente da Associação Nacional de Surdos (ANS), protestou em 1913: "Uma nova raça de faraós que não conhecia José está tomando a terra. Inimigos da língua de sinais, eles são inimigos do verdadeiro bem estar dos surdos. A minha esperança é que todos nós amemos e guardemos nossa bela linguagem;

  • Em escolas de surdos, o nível de instrução é frequentemente baixo; em escolas comuns, grande parte da instrução é inacessível aos alunos surdos. Em nenhum caso os surdos recebem uma boa educação;

  • No século XIX, Alexandre Graham Bell, que era filho ouvinte de mãe surda e casado com uma mulher surda, depreciava os sinais da língua delas. Ele fundou uma associação “educativa” que condenava o casamento entre surdos e o contato entre alunos surdos! Bell defendia a esterilização de todos os surdos! Thomas Edison também aderiu ao movimento para extinguir a língua de sinais;

  • Os surdos eram considerados idiotas, por isso, na língua inglesa, a palavra dumb (mudo) se refere a uma pessoa pateta;


Sobre a aquisição da linguagem:


  • “As crianças surdas adquirem a língua de sinais da mesma maneira como as crianças que ouvem adquirem a língua falada; a maioria pode aprender a linguagem sonora escrita como uma segunda língua. Para muitas, no entanto, a fala é uma ginástica mística da língua e da garganta, enquanto a leitura labial é um jogo de adivinhação.”

  • “Se passarem da idade-chave para a aquisição da linguagem sem adquirir alguma língua por completo, elas não poderão desenvolver habilidades cognitivas plenas e sofrerão permanentemente uma forma evitável de retardo mental.”


Filhos surdos de pais surdos


  • "A cultura surda proporciona um caminho para as pessoas surdas se reinventarem, não tanto se adaptando ao presente, mas herdando o passado. Ela possibilita que os surdos pensem em si mesmos não como pessoas com audição inacabada, mas como seres culturais e linguísticos em um mundo coletivo com os outros.”


Filhos surdos de pais ouvintes


  • A língua de sinais e a cultura surda distancia os pais ouvintes dos filhos surdos, pois torna-se difícil a comunicação entre eles. Por essa razão, muitos pais ouvintes procuram outros caminhos para os filhos, como o implante coclear.


  • “O implante coclear não permite que se ouça, mas possibilita algo que se assemelha à audição. Dá à pessoa um processo que é (às vezes) rico em informações e (em geral) desprovido de música. Implantado desde cedo, pode proporcionar uma base para o desenvolvimento da linguagem oral.”


  • Além de possíveis reações adversas e complicações na cirurgia do implante coclear, ele proporciona apenas versões dos sons que os ouvintes escutam.


O autor alerta outro risco para aqueles que optam pelo implante coclear dos filhos:


  • “… Algumas crianças com implantes não expostas à língua de sinais porque se espera que desenvolvam a fala, podem cair na assustadora categoria dos desnecessariamente prejudicados, que têm uma língua principal escassa.”


    Você sabia que há um clube de leitura com o projeto Calhamaço 2022, onde há a leitura de um capítulo por mês do “Longe da Árvore” de Andrew Solomon?


    Quer participar do clube? É só deixar um comentário no instagram @historiasreaisclube ou enviar um direct que você seja adicionado no grupo do WhatsApp onde vamos conversando ao longo da leitura ou se preferir participar só das Rodas de Conversas, pós leitura de cada capítulo (toda última terça-feira do mês às 19:30 pelo Google Meet), é só deixar sinalizar que te enviaremos o link.


Texto:  @giselesertao @afagodemaeoficial



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la”.

     Passando pelo bairro São Mateus, na zona leste de São Paulo, avistei a ocupação Maria Carolina de Jesus. Lembrei-me imediatamente da realidade sofrida por Dona Carolina. Eu a conheci através de seu livro: Quarto de Despejo- o diário de uma favelada no início deste ano.      Conheci de perto  através de Carolina  uma das piores mazelas deste mundo: a fome. Essa  era sua companheira diária. Era também o motivo dela trabalhar catando papel fizesse sol ou chuva para que seus meninos pudessem se alimentar.   Ela era uma crítica assídua dos governantes que pouco faziam pelos mais desfavorecidos: “O que eu aviso aos pretendentes a política, é que o povo não tolera a fome. É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la”.   De alma poeta, ela escrevia sobre a miséria dos favelados, ela odiava os políticos pois eles sempre prometiam mundos e fundos nas eleições e depois que ganhavam desapareciam, deixando assim os pobres a  ver navios.    Ela dizia: “O Brasil precisa ser dirigido por uma

"Mamãe, você compra um amigo pra mim?"

  Meu filho tem 4 anos e adora brincar com os amiguinhos da escola. Um dia desses ele me fez uma pergunta inusitada: "Mamãe, você compra um amigo pra morar aqui com a gente e brincar comigo?".  Eu lhe expliquei que amigos a gente não compra, que precisamos conquistar os amigos e que logo ele iria ver os amiguinhos da escola. Lembrei -me da seguinte frase do pequeno príncipe: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." Amigos são jóias raras que conquistamos ao longo da vida. E para que a amizade dure é necessário regar e cuidar com muito afeto. É de nossa responsabilidade manter essa amizade com todo amor e carinho que ela merece. E você já conquistou muitas amizades até aqui? O que tem feito para que elas prevaleçam?  Quem tem um amigo tem tudo ❤️ Texto: @giselesertao @afagodemaeoficial

Sobre o meu processo de internação em uma clínica psiquiátrica

 Eu sempre fui uma pessoa responsável. Eu sempre agi de forma consciente com as minhas atitudes para que elas não impactassem negativamente o meu semelhante. Eu sempre estudei, trabalhei e nunca subi em ninguém pais crescer sua vida. Eu nunca gostei de puxar saco de superiores para conseguir vantagens. Eu também nunca forcei amizades para conseguir privilégios. Eu sempre fui uma pessoa sincera e agi com reciprocidade e responsabilidade afetiva nas minhas relações. Eu sempre fui verdadeira e me frustrava  quando encontrava relações rasas ou fingidas seja na escola, nos empregos ou na parentela. Eu estava fazendo terapia há 3 anos, lendo livros, fazendo cursos e cuidando da minha saúde mental. E ainda assim há um mês atrás eu tive um surto psicótico grave.  A minha mente entrou em parafuso  com tantas informações e situações adversas. Eu entrei em um mundo paralelo e não conseguia conversar nem enxergar nada na minha frente com racionalidade. Eu me transformei em uma pessoa totalmente de