Livro: Longe da Árvore Autor: Andrew Solomon
"Resultado de uma ampla investigação sobre as tensões entre identidade e diferença em famílias com filhos portadores de deficiências físicas, mentais e sociais, “Longe da árvore” é um ensaio sobre a tolerância e a valorização da diversidade."
Andrew Solomon é um escritor contemporâneo ativista e conferencista, é autor entre outros de “O demônio do meio dia'', que venceu o National Book Award de 2001 é considerado um dos cem livros mais importantes da década pelo Jornal The Times.
Ele foi diagnosticado com dislexia na infância, foi rejeitado em onze escolas de Nova York, onde alegaram que ele nunca aprenderia a ler e a escrever. Sua mãe foi fundamental no seu processo de alfabetização, onde as suas habilidades de leituras avançadas prevaleceram sobre resultados de testes que previam que ele jamais aprenderia a ler. Por fim, uma escola o aceitou.
Neste primeiro capítulo o autor aborda a relação entre pais e filhos, idealizações, frustrações e questões que indicam problemas enfrentados por pais de filhos com identidades horizontais e pelos próprios filhos. Tais questionamentos terão continuidade em cada capítulo do livro. São 12 no total.
Em “Longe da árvore”, Andrew fala sobre as chamadas “identidades horizontais”, ou seja, padrões familiares que fogem da normalidade, segundo a sociedade. Ele traz histórias reais de famílias que possuem filhos com Síndrome de Down, autistas, prodígios, transexuais, esquizofrênicos, crianças com deficiências e também crianças que nasceram de um estupro. São muitas histórias interessantes, que fazem o leitor refletir sobre a própria condição e o que é a essência de ser pai.
O seu interesse pelas diferenças profundas entre pais e filhos surgiu de uma necessidade de investigar suas dores mais profundas. Ele sentia as falhas de aceitação dos seus pais devido a sua homossexualidade como déficits de amor. Com o tempo ele passou a compreender que a principal experiência deles foi ter um filho que falava uma língua da qual eles nunca pensaram em estudar. Andrew diz que iniciou a pesquisa para entender a si mesmo e por fim acabou compreendendo seus pais.
No primeiro capítulo o autor nos traz uma ampla investigação em como as diferenças entre pais e filhos contribuem positiva ou negativamente, para moldar a vida de ambos. O autor apresenta conceitos de identidade: As verticais e as horizontais.
Identidade vertical é aquela que se herda da família, tanto pela genética quanto pela cultura, como a cor da pele, a etnia, a linguagem, etc..
Já a identidade horizontal é aquela que se constitui de características estranhas aos pais, cujos filhos só encontrarão semelhantes com quem possam compartilhar experiências fora do núcleo familiar. A homossexualidade, por exemplo, costuma ser uma identidade horizontal, já que a maioria dos homossexuais são filhos de pais heterossexuais.
"Meu estudo abrange famílias que aceitam seus filhos, e como isso se relaciona com a auto aceitação dessas crianças, uma luta universal que negociamos em parte através das mentes dos outros. Ao mesmo tempo, ele analisa a forma como a aceitação da sociedade em geral afeta tanto essas crianças como suas famílias. Uma sociedade tolerante abranda os pais e facilita a autoestima, mas essa tolerância evoluiu porque indivíduos com boa autoestima revelaram a natureza equivocada do preconceito. Nossos pais são metáforas de nós mesmos: lutamos pela aceitação deles como uma forma deslocada de luta para nós mesmos. A cultura é também uma metáfora de nossos pais: nossa busca pela autoestima no mundo em geral é apenas uma manifestação sofisticada de nosso desejo primordial do amor dos pais. A triangulação pode ser estonteante." -Andrew Solomon
A seguir alguns trechos que considerei importantes deste primeiro capítulo:
"Tendo previsto a marcha para a frente de nossos genes egoístas, muitos de nós não estamos preparados para filhos que apresentam necessidades desconhecidas. Devemos amá-los por si mesmos, e não pelo melhor de nós mesmos neles, e isso é muito mais difícil de fazer. Amar nossos próprios filhos é um exercício para a imaginação."
"Se toleramos o preconceito contra qualquer grupo, nós o toleramos em relação a todos os grupos", disse ele. "Eu não poderia ter relacionamentos que dependessem da exclusão de meu irmão, ou de qualquer outra pessoa. Estamos todos em uma única luta, e nossa liberdade é a mesma liberdade para todos."
"Rotular a mente de uma criança doente - seja ela autista, deficiente intelectual ou transgênero - talvez reflita mais o desconforto que essa mente causa aos pais do que qualquer desconforto que cause ao filho. Em muitos casos, aquilo que foi corrigido talvez devesse ter sido deixado como estava"
"O fato de ter filhos excepcionais exagera as tendências dos pais: aqueles que seriam maus pais se tornam pais péssimos, mas aqueles que seriam bons pais muitas vezes se tornam extraordinários. Assumo uma posição antilusitana e digo que as famílias infelizes que rejeitam seus filhos diferentes têm muito em comum, ao passo que as felizes que se esforçam para aceitá-los são felizes de uma infinidade de maneiras."
"Na medida em que nossos filhos se parecem conosco, eles são nossos admiradores mais preciosos, e, na medida em que são diferentes, podem ser os nossos detratores mais veementes. Desde o início, nós os instigamos a nos imitar e ansiamos pelo que talvez seja o elogio mais profundo da vida: o fato de eles escolherem viver de acordo com nosso sistema de valores. Embora muitos de nós sintam orgulho por ser diferentes dos pais, ficamos infinitamente tristes ao ver como nossos filhos são diferentes de nós."
"Olhar no fundo dos olhos de seu filho e ver nele ao mesmo tempo você mesmo é algo totalmente estranho, e então desenvolver uma ligação fervorosa com cada aspecto dele, é alcançar a desenvoltura da paternidade egocêntrica, mas altruísta. É incrível a frequência com que essa reciprocidade é alcançada com que frequência pais que supunham que não poderiam cuidar de uma criança excepcional descobrem que podem. A predisposição para o amor dos pais prevalece na mais penosa das circunstâncias. Há mais imaginação no mundo do que se poderia pensar."
Aqui neste post citei alguns trechos do primeiro capítulo para despertar a sua curiosidade em ler essa obra incrível completa. É um livro com 1040 páginas, mas não se assuste, há um jeito de você lê-lo com muito entusiasmo: Há um clube de leitura com o projeto Calhamaço 2022, onde há a leitura de um capítulo por mês do “Longe da Árvore” de Andrew Solomon.
Quer participar do clube? É só deixar um comentário no instagram (@historiasreaisclube) ou enviar um direct que você seja adicionado no grupo do WhatsApp onde vamos conversando ao longo da leitura ou se preferir participar só das Rodas de Conversas, pós leitura de cada capítulo (toda última segunda-feira do mês às 19:30 pelo Google Meet), é só sinalizar que te enviaremos o link.
Texto: @giselesertao @afagodemaeoficial
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